quarta-feira, janeiro 31, 2007

Um diz-que-diz-que macio que brota dos coqueirais...

Às vezes um puto caderno e caneta que funcionem fazem falta.

Nós humanos confiamos, erroneamente na memória, essa massa fluida e mutante, que insistimos ser estável. Ainda agora, antes de escrever estas linhas estava pensando mesmo no assunto que deveria escrever. Era algo forte, uma metáfora da vida real, uma crítica ferrenha feita com luvas de pelica. Algo com classe, nada vulgar do tipo "vão se fuder seus porcos capitalistas".

Na hora lembrei da bala, das balas. Não aquelas que ferem e matam, mas aquelas coisas doces que destróem os dentes de crianças e adultos e que matam os pequenos por sufocamento. Esses pecorruchos vendem, também, algumas vezes essas doçuras pelos semáforos da vida. Quando paramos eles penduram o pacote no retrovisor. No embrulho, uma sequência de balas cuidadosamente arrumadas, uma mensagem e o preço: R$ 1,00. Curiosamente pequei dia desses um combo com a criativa frase "Aqui a bala do verão, por apenas um realzão".

A pergunta é, de onde vem tanto doce? Os sinais das grandes cidades já se tornaram pontos comerciais fortíssimos. Depois da onda de malabaristas argentinos, temos agora o resultado. Meninos e meninas descamisados, fazendo malabarismos, dançando break, vendendo balas ou simplesmente pedindo. Do outro lado estão os carros com seus vidros cada vez mais fumês, cada vez mais grossos. Seus sons potentes abafando a realidade que grita, sem no entanto dizer uma só palavra.

Felizmente confiamos na memória. Foi ela sim que trouxe essas imagens, e que agora, fique registrado, vai ficar mais quieta depois de escritas essas linhas. A minha parte, ela vai atestar futuramente, eu fiz. Comprei as ditas balas. São realmente boas, importadas todas. Felizmente adoçamos a realidade.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Ano novo minimalista

No próximo ano novo eu quero menos fogos, menos barulho. Sugiro para todos uma comemoração minimalista. Várias pessoas em uma sala branca. Na hora da virada o anfitrião posiciona uma caixa branca no centro dos convivas e estoura, com o silêncio de todos, um estalinho. Pronto. Feliz Ano Novo! E todos vão para suas casas com aquela sensação de plenitude que apenas as pequenas coisas podem trazer.

Espero um 2007 minimalista. Um Pan Rio-São Paulo muito ridículo, um ano magro também nas obras políticas, depois da ressaca do ano eleitoral. Depois da grandiosidade dos fogos e ataques criminosos do Rio, depois da forca do Saddam, tudo de belo fica para trás. Nem globeleza nós temos mais. Somos obrigados a ver uma mulata diferente por dia, sambando sem aquela graça que só a esposa do Hanz Donner pode nos dar.

Tomara que essa pequenez dos acontecimentos pelo menos favoreçam um engrandecimento da nossa vida ordinária (eu digo em oposição a esses acontecimentos extraordinários, não que não seja bela e dinâmica). É só.

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