quinta-feira, abril 12, 2007

Água entalada

Ficou comum aquele pensamento de que os políticos, notadamente os que habitam a capital federal, deveriam matricular seus filhos nas escolas públicas, para aí sim lutarem por melhores condições de ensino. Pensamento que tem toda a coerência, já que são justamente esses filhos de políticos e da classe mais abastada que, estudantes de escolas particulares que são, terão mais chances de no futuro passarem no vestibular de uma universidade pública, gratuita [e de qualidade?].

Nada mais justo do que cotas para o ensino público nesse caso, não? Pelo menos uma tentativa de se frustrar esse domínio descaradamente ligado ao poder aquisitivo da população, e tentar dar mais vagas para todas as classes, em todos os níveis de ensino. Essas são incoerências de um Brasil mal acostumado. De um dos países líderes no consumo de água mineral do mundo, mesmo sendo possuidor das maiores reservas de água doce do mundo.

Mas qual a incoerência da água, algum astuto inquisitor irá perguntar? Não podemos nós usufruirmos do que temos? Pois veja bem, meu caro amigo. É exatamente esse mesmo pensamento que nos deixa em xeque na educação e em tudo mais. Por que não tomar a água da torneira? Por que não preservar os mananciais que abastecem nossas casas e assim confiar na qualidade daquilo que chega pela torneira? Não seria mais fácil? Por que o político não matricula seu filho na escola pública?

Interrogações que se respondem mais uma vez por esse pensamento, de pegar enquanto tem, de aproveitar que o preço é pequeno, que se pode pagar. Afinal de contas, conforme reza a cartilha de nossa elite, a escola pública, a água "da rua" e uma infinidade de outras coisas, entre elas a cadeia, são de uso exclusivo [e excludente] de uma população sem recursos e, portanto, sem dignidade e direitos. O benefício da lei para os amigos e o rigor dela para os inimigos. É mais ou menos assim que nos viramos nessas terras calientes e carentes.